16/09/2010

Vamos imaginar 2 comboios...

... de alta velocidade, um faz o trajecto Frankfurt/Dresden e o outro Coimbra/Lisboa... o primeiro gasta 6 horas na sua viagem e o segundo pouco mais do que 1 hora e meia... no ICE estabeleci conversa com um engenheiro alemão que regressava de um qualquer país de África, sendo a sua ocupação no ramo do "dinheiro negro", vulgo petróleo... contrariando um pouco a imagem que temos deste povo, o alemão fartou-se de fazer perguntas. Para onde ía? De onde vinha? Se já conhecia alguma coisa da antiga alemanha oriental? Qual a minha idade? Qual era a minha profissão? Um sem número de perguntas fruto do diálogo e não de uma qualquer curiosidade mesquinha tipicamente micaelense... fui respondendo com o meu sotaque do norte de inglaterra e pedindo sempre desculpas pelo meu enferrujado inglês... durante a viagem entrou e saíu gente... os telemóveis tocaram discretamente, as pessoas atendiam sem alaridos e com voz suave... dentro daquele comboio seguiam enumeras pessoas, perfeitamente anónimas, dentro das suas t-shirts, calças de ganga e sapatilhas... o alemão saiu em Leipzig a uma hora ainda de viagem de Dresden, desejando-me uma boa estadia e afirmando que eu íria adorar a cidade... No Alfa, lia o "Benjamim" do Chico Buarque, tentava absorver o cheiro e os sons de Copacabana, do Rio de Janeiro, tentava sentir aquele povo em torno de mim... tentava... pois o senhor que se sentou ao meu lado sacou do seu portátil, ligou o seu canguru e começou a "surfar"... a senhora à minha frente falava ao telemóvel... e tive que desistir ao 35º telefonema do tipo, perdão senhor doutor, sentado à minha esquerda... estive para dar um grito... fazer um teatrozinho com o meu telemóvel, mas o desgraçado fartava-se de dar sinal de bateria fraca, portanto não ía ser credível... só vos posso dizer que já me imaginava como um verdadeiro proxeneta a enviar raparigas e rapazes de programa a encontros em quartos de hotel... a mulher da frente rendeu-se à evidência do meu vizinho... não deu hipóteses na curruagem 33 da 2ª classe (estranho ser só 2ª classe...).. de óculos de sol postos pelo sol que entrava pela janela, resolvi analisar o comportamento do dito dr... acabava as frase com um sorver de ar... ffffsssssss... e utilizava muitos diminutivos... trabalinho... reuniaozinha... e quando era para desligar dizia Oh kapa (OK)... disse que estava muito cansadinho e que ainda tinha que repôr 30 telefonemas e 20 mails... o écran do portátil mostrava o Expresso on-line (a uma terça feira?!) e só me lembro de mudar de site quando entrou na intranet do Santander (que ocupado que eu sou consigo ir a dois sites)... pela forma como falava e se posicionava fisicamente... dava para perceber quando falava com uma mulher, com um homem, com um amigo, quando falava com um homem de uma outra mulher (não sei se chegou a coçar o escroto nessa altura), quando falou com o seu gerente de conta, quando falou com um homem sobre outra mulher chata sua cliente, quando falou com uma mulher sobre um cliente homem chato seu cliente... estive perante todas as combinações possíveis... em conclusão pude constatar que o homem pertencia ao Santander, andava de universidade em universidade, gerindo ou fazendo, angariação de possíveis clientes estudantes para o seu banco... que se lixe a mãe que sirva de fiadora... o(a) filho(a) tinha um plano qualquer num outro banco e que só podia levantar o gargalhume quando fosse maior de idade... estavamos a chegar à Gare do Oriente a mulher da frente com as suas unhas de um vermelho escarlate... olhou para o sr. dr. do meu lado e este penso que terá sorrido em sinal de triunfo... sim era na realidade um homem ocupadinho... importantezinho... cheio de stylezinho... e cheio de si (inho)... no dia a seguir telefonei à minha amiga lisboeta... ohhh XXXXXX... conheces um tal de pedro dias... ela chamou-me doido... que havia 5.000 e tal a trabalhar no Santander... está no ramo das universidades... sim já o encontrei aqui na lista do computador... diz-lhe que quem estava sentado ao seu lado no Alfa da terça-feira passada... era alguém que o estava a avaliar a pedido dos seus superiores e que o avaliei com nota baixa... carlos tu sabes que o Santander tem esse tipo de abordagem... envia clientes secretos para avaliar o desempenho dos seus funcionários... afinal era um banal funcionário de um banco... ora foda-se estava mesmo convencido que o gaijo era dono do banco... é por essas e por outras que "odeio" homens de fato e gravata... os maiores filhos da puta que conheci ao longo destes anos, usavam todos... mas todos elegantes fatos e bonitas gravatas... bom... bom... é só chamar dr. aos médicos como o fazem os povos civilizados... e não aqueles professores doutores, sumidades mundiais que andam de t-shirt, calças de ganga e sapatilhas... isso sim é que são homenzinhos a sério... fffsssssttttt!!! Ó KAPA!!!

2 comentários:

  1. Anónimo9/17/2010

    Priminho,
    Gostei do conto de hoje e por falar no Santander, este comprou o Banco Real e o Newton fazia a transferência de seu salário, como eu também fiz quando vim para cá. Para a nossa surpresa, o Santander não está mais remetendo dinheiro para o exterior? Piada? Não, é a mais pura verdade.
    Onde já se viu um banco espanhol não fazer câmbio, como é normal, para outros países? Ou será que é a antiga birra de Espanha x Portugal.
    Somos clientes antigos e agora, em meio a tantos problemas, ainda temos que ver como o Newton vai poder abrir uma conta no Brasil estando aqui. O Banco do Brasil aqui já disse que não dá. É mole? Em que século estamos mesmo?
    Beijinhos da prima revoltada,
    Nadir

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  2. Escreves e descreves muito bem...gostei mesmo de ler! :)

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