24/02/2011

A Mulher que se Chama Portugal

Portugal é uma mulher com uma certa maturidade e muito carente... possui um casamento que ninguém percebe... o seu marido não "coisa", nem sai de cima... é incompetente e bronco... ela está desejosa por uma relação promíscua com o primeiro que lhe apareça... existe um com ar de galã, timbre de voz grave que a cativa, mas também esse não avança em definitivo para a arrebatar. Umas vezes parece decidido a declarar-se noutras parece que não quer nada com ela. Existe outro, não muito dado à beleza, fatos da década de 70 e os óculos de 80, com uma dicção que qualquer terapeuta da fala ambicionava tratar, mas o problema dele é uma questao de género, descobriu-se agora. Outro ainda que também passa pelas suas cogitações, tal é o seu estado de carência, é um pequenote, de nariz adunco, que panteia o cabelo para esconder uma certa calvice. O que lhe encanta é a sua prosa, fica inebriada e com palpitações, mas cedo se apercebeu que não será homem de acções. E por último temos aquele de enormes convições, com uma forma de estar na vida imaculada em termos de coerência, valores algo retrógados para os dias que correm, mas no entanto exala um certo charme dado pelo romantismo de acreditar nas suas ideologias e defendê-las até à morte. Agrada-lhe essa faceta. Para tirar algum prazer da vida, resta-lhe a masturbação. Os dias estão difíceis, noutros tempos de abundância podia comprar prazer. Hoje começa a olhar com interesse para o estrangeiro, vejam só, até o homem alemão começa a deixar-lhe o corpo a tremer. Sempre foi mulher de muitos homens, umas relações mais duradouras que outras. Fez psicanálise, disseram-lhe que foi da educação austera e ditatorial que teve. O dia mais feliz da sua vida foi quando o pai caiu da cadeira e morreu. Libertou-se das amarras, entrou da fase da loucura e do amor livre, apaixonou-se simultaneamente por um homem baixo e gorduchinho e outro da mesma estatura, mas com o cabelo branco. Amou-os como ninguém, completavam-se dizia ela na altura, um pelo ar bonacheirão e de famílias ricas e o outro pelo seu cabelo grisalho e enorme inteligência. Afastou-se deles, quando eles se afastaram. cansou-se de uma relação a três. Descobriu um advogado do norte, foi amor à primeira vista, não foi correspondida, ele trocou-a por uma nórdica. Morreu num acidente de aviação... voltou a psicoterapia... porque é que as paixões eram tão intensas e terminavam tão depressa como começavam... porque é que só lhe apareciam homens baixinhos, seria por ser a única coisa que merecia... por ela ser também pequena no seu tamanho? Nunca obteve respostas... envolveu-se com um militar... pouco tempo durou, pela frieza da relação... estabilizou com um outro... alto, garboso... pensou, a sua vida estaria a mudar... ele era alto... estabilizou, foi a sua relação mais duradoura, mas quando a paixão se tranformou em amor, vislumbrou um homem pouco culto, com uma estranha forma de comer bolo rei... largou-o... envolveu-se com outros três homens... os dois primeiros cobardes, fugiram à primeira adversidade, o outro durou uma noite... percebeu logo a sua incompetência, nem chegou a tomar o pequeno almoço com ele. Até que surgiu o homem com quem se relaciona agora... conhecia-o à bastante tempo, mas era de uma simplicidade atroz, a roçar o rídiculo... detectou-lhe ambição... ambição desmesurada... ignorou... encontrou-o anos mais tarde... não quiz acreditar... bem ataviado... bem penteado... com uma dicção proveniente de alguma professora... até os gestos eram novos... sinais de riqueza... ninguém sabia o que fazia... esqueceu a imagem que tinha dele de outros tempos... apaixonou-se... apaixonaram-se... foi interesseira... foram interesseiros... usaram-se mutuamente... e ainda perduram numa relação que à muito terminou, mas que nenhum quer acabar... os seus pensamentos voam para longe... para um homem que a arrebata só com um olhar, que a possua, que lhe volte a fazer mulher... o seu sonho, é o sonho de qualquer mulher, encontrar o seu "príncipe encantado" que a compreenda, que seja gentil e amoroso... que a faça feliz, para que todos que a rodeiam possam também ser felizes... reconhece que será difícil... tem um plano B... tem o contacto daquele do all garve... ela sabe que ele também é pequeno na sua estatura... mas dizem que é bem abonado, argumenta... não percebe o bigode... ela só quer voltar a ser M U L H E R ! ! !

08/02/2011

Os Especialistas...

O país está cheio de especialistas. Abrimos a televisão, ouvimos a rádio ou as pessoas nas compras e temos especialistas em tudo... eles são especialistas em política, em política internacional, em política do médio oriente, em armamento, em geo-estratégia, em vida alheia, em massagens ayurvédicas... eu sei lá... algumas destas especialidades deram mesmo origem a novas profissões. Pois bem tantos especialistas e ninguém conseguiu antever esta verdadeira loucura que se está a passar no Egipto, Túnisia e vejam bem até no Iemén... ninguém com tantos conhecimentos resolveu dizer, tenham atenção a esta zona do mundo, que pode "explodir" a qualquer momento... mas depois de a revolta vir para a rua, lá temos nós os tais especialistas a dizerem um sem número de verdades de La Palice... por cá temos/tinhamos o Zandinga, o Sadanha Sanches, temos o Medina Carreira, por vezes um tal de Henrique Neto e um ou outro Frade de uma qualquer Ordem... apelidados sempre de loucos!!! Mas o que eu mais gostei de ver, nomeadamente no Egipto, era o aglomerado de novos e velhos, com sapatos e chinelos em riste, a bradar numa língua estranha para todos, algo que a maioria de nós não percebe. Vocês certamente não percebem, mas eu como tive que aprender a língua por motivos profissionais, entendi muito bem... "Òhhh... Mubarak... ou vais embora ou levas tatau com o chinelo...". Isto é que é uma revolução como dever ser, ameaçar o chefe de um governo autoritário e que se eterniza no poder à décadas, com o chinelo, é deveras embaraçante... diria mais... é deveras humilhante... o Mubarak, nesta altura já só ambiciona ser assassinado como o Ceausescu, recusa-se a sair do país à lei do chinelo... mas o mais engraçado disto tudo e vendo a cena dos revoltosos, a forma como se vestem, como põem o garruço na cabeça, como evidenciam a falta de dentes, como devem exalar um odor peculiar, como se atropelam aos gritos para falar... na tal língua que ninguém entende... pode muito bem ser transposta para uma qualquer realidade de um país vizinho... é que vejo com muito enquadramento uma cena daquelas em Rabo de Peixe, ou até mesmo em Taveiro... tudo zonas muito perto das que estão no epicentro dos acontecimentos... digam lá se não é igualzinho... igualzinho? Claro que sim... agora a cena dos sapatos e dos chinelos no ar é pura e simplesmente deliciosa... pena é que em Rabo de Peixe a revolta comprou-se e assim se manterá enquanto houver dinheiro... repararam que os tunísinos introduziam flores nos canos das armas dos militares... essa paga direitos de autor... é muito nossa... como dizia a Filomena Mónica o problema de Portugal ao longo da sua história, é que todas as revoluções foram oferecidas aos portugueses e assim estes acabam por não dar valor a nada... quando não morre ninguém... quando não existem cabeças rachadas... hematomas no corpo, nada feito!!! Somos umas verdadeiras crianças que crescemos com tudo e por isso... não damos valor a nada. Não querendo tornar-me um desses que mencionei no título, antevejo uma REVOLUÇÃO CULTURAL para daqui a 100 anos... é que a nossa geração e as três seguintes precisam de desaparecer...

04/02/2011

asdfghjkl

Morreu Maria Schneider... pronto... finalmente vamos poder barrar a manteiga no nosso pão em paz...