23/07/2014

Exmo. Sr. Presidente do Governo Regional dos Açores

Dr. Vasco Cordeiro
Excelência;
Comunicou V. Exa. aos residentes nos Açores que o preço máximo de uma viagem do Arquipélago para Portugal Continental seria no máximo de 134,00€. Simultaneamente, informou da liberalização dos transportes aéreos do Continente para duas ilhas da Região e outras medidas no âmbito do custo dos transportes de produtos para exportação e importação.
Não sendo grande parte dos residentes no Arquipélago agricultores, lavradores, floricultores, horticultores, pescadores ou empresários em geral, o regozijo pela medida anunciada e que apenas entrará em vigor no verão de 2015, foi pouco audível e como sempre recebida com perfeita ignorância.
Face a este tipo de anúncios de cariz eminentemente político, o que temos a fazer é esperar, para que à luz de um novo dia nos deixe vislumbrar o verdadeiro brilho da sua mensagem.
No verão de 2014 e para um agregado familiar de 4 pessoas com idades superiores a 12 anos, a viagem para Portugal Continental tem um custo de praticamente 1.600,00€. No verão de 2015, e face ao anúncio de V. Exa. o preço será o mesmo, isto é, 1.600,00€. A diferença é que o Governo Regional devolverá 1.064,00€ num prazo de 90 dias.
Quem em 2014, pelo valor elevadíssimo das passagens aéreas tinha dificuldade em viajar, continuará a ter a mesma dificuldade em fazê-lo em 2015. Resultando, assim, a medida anunciada num verdadeiro "flop", mas por outro lado tem o dom de mostrar a todos a essência do Governo que V. Exa. preside pretende para a população residente nos Açores, que é, assumir de uma vez por todas que só pode viajar quem tem dinheiro.
Contudo, em termos económicos a medida traduz-se numa iniciativa brilhante. A população não tem pejo em o admitir e remeter os devidos parabéns ao(s) autor(es) do modelo preconizado. Deste ponto de vista a SATA possui sempre "cash flow" na sua conta, porque recebe hoje e paga a 90 dias e como vai sendo hábito nos governos, sejam eles quais forem, será mais para o fim do prazo do que no início dele.
Existem governos que vão ao mercado para pagar os encargos e obrigações que saldam periodicamente, ou seja, pedem emprestado para pagar o último empréstimo. O Governo de V. Exa está mais além, qual visionário, e utiliza o dinheiro dos naturais e dos que escolheram os Açores para residir, como se de um banco se tratasse, mas sem se submeter à componente aborrecida, que é a do pagamento de juros.
Temos a certeza que as viagens anunciadas hoje em dia a preços mais baixos que a referência dos 134,00€ irão desaparecer em 2015, de um dia para o outro e todos teremos, se quisermos e podermos, pagar acima de 300,00€, esperando depois numa fila para entregar um comprovativo em como se pagou, em como se viajou, em como qualquer coisa... Ou em última instância, e essa a mais agradável para Vós, quem não for para a fila, não recebe o dinheiro. Ponto!
Quanto ao valor exorbitante das passagens entre ilhas e que os mesmos residentes nos Açores têm que suportar, creio que V. Exa. não abordou esse tema. Ou terá sido distração nossa?
Resta-nos entretanto fazer o que temos feito até agora e ao fim de anos, anos e anos a fio, comprar viagens para o Continente a preços vergonhosamente caros.
Grato pela atenção que possa ter dispensado na leitura desta carta aberta
alguém que escolheu, em 1999, S. Miguel para viver
Carlos Marques

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