21/10/2009
A Papaia...
Acordou como nos últimos 3 meses o fazia... com o sol quente trespassando os estores de madeira, queimando-lhe suavemente as pálpebras. Lutava diariamente por contrariar as rotinas que o seu corpo trazia de uma outra vida longínqua...
Ergueu-se energicamente da cama... seria aquilo uma cama, dirigiu-se à bancada de mármore branca, uma mão agarrou uma peça de fruta e a outra verteu um café frio para uma caneca. Encaminhou-se para o exterior e à saída do alpendre sentiu a areia grossa e quente nos seus pés, sorriu de satisfação...
Dirigiu-se para o velho e ressequido ancoradouro de madeira e sentou-se. Reclinou ligeiramente a cadeira, gasta pelo sol e pela solidão de quem nela se sentava... Bebeu uma boa quantidade de café, fez uma ligeira pausa, olhou em direcção ao mar e repetiu a dose daquele líquido escuro, frio e amargo... Pousou a caneca e com um movimento algo brusco comeu a fruta... ainda hoje não lhe explicaram como se comem esses frutos exóticos
Encostou as costas e a nuca na madeira quente e áspera e ficou a olhar a indefinição cromática da linha do horizonte... fechou os olhos e deixou-se ficar...
Despertou lentamente do seu estado de quase hipnose pelo barulho cada vez mais próximo de um motor sonolento... soube logo que passavam das 11.00 h... impreterivelmente aquela hora o pequeno barco do velho pescador de tez queimada e barba esbranquiçada, aproximava-se para lhe entregar o almoço do dia...
Enquanto amanhava o peixe, falava aquela língua mediterrânea que nada lhe dizia... o diálogo era profícuo... cada um na sua língua falava sobre o que bem lhe apetecia, sem censuras ou observações... sem saberem o que cada um dizia, fazendo pausas para que cada um pudesse responder...
O diálogo terminava como sempre... o peixe era pousado em cima do pavimento do ancoradouro e o barulho do motor dissipava-se atrás de uma pequena península de areia e palmeiras, no quadrante superior direito...
Acendeu uma pequena fogueira no areal... assou o peixe... comeu-o... bebeu da garrafa de cerveja... deitou-se na rede à sombra do alpendre, acendeu um cigarro... bebeu o resto de cerveja... reviu mentalmente a conversa desse dia com o velho pescador e adormeceu...
O cigarro ainda acesso, caiu na areia junto de outras 89 beatas!
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Priminho,
ResponderEliminarGostaria de saber se você tem recebido os meus e-mails. Pestana, fotos, etc... Caso você tenha um tempinho, favor me informar.
Beijos,
Nadir
fantástico texto....obrigado. bela forma de me esquecer da manhã de hoje...sabes do que falo
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