14/05/2009

A Força Centrípeta

Disse-me que ele também conseguia andar de bicicleta, fiquei incrédulo, a imagem era demasiado surreal para ser levada a sério, no entanto Eduardo era uma pessoa que não tinha por hábito mentir ou brincar com coisas sérias, como eu. Tinha que o ver, com estes olhos que o fogo há-de consumir Esperei pela Primavera, com aquelas palavras arrumadas numa gaveta da minha consciência... ele também conseguia andar de bicicleta O tempo começou a aquecer e da janela da minha sala avistava o seu quintal. Passaram-se dias, semanas e naquele dia ao fim da tarde apareceu ele e empregada, com a bicicleta pela mão Fiquei com a respiração acelerada... ele também conseguia andar de bicicleta A rapariga segurava com uma mão a bicicleta pelo celim e com a outra o guiador Num ápice já estava sentado nela e com o pé direito colocou o pedal direito a postos, enquanto o outro pé se firmava no chão Com um movimento de corpo impulsionou a bicicleta. O quintal era enorme e todo pavimentado com calçada, boquiaberto com a imagem que se me deparava - petrifiquei - e não pude perceber como a bicicleta se encontrava agora em movimentos circulares largos a uma velocidade constante e com o seu corpo ligeiramente inclinado para dentro, como que pondo em prática os ensinamentos da física... ele também conseguia andar de bicicleta Quiz o destino que nunca mais nos vissemos, até aquela noite de Dezembro. Quantos anos se passaram? Não sei... o estranho é que nem tinha o hábito de ir aquele PUB, mas como comemorávamos os anos da Maria e já estava um pouco alcoolizado, entrei sem pensar e estive como sempre na companhia do meu amigo Jameson Reparei que bebia cerveja, uma enorme caneca de cerveja e sempre que o desejava, dava um sinal subtil à mulher que se encontrava ao seu lado direito, que lhe levava a caneca à boca inclinando-a ligeiramente para que ele pudesse beber Não tenho por hábito pôr-me a olhar para as pessoas, mas naquela noite, não consegui deixar de o fazer, analisando ao pormenor todos os elementos do grupo e a ele com particular atenção... não sei se pelo efeito do álcool, a imagem da bicicleta a rodopiar em grandes círculos pareceu-me bem real e diría que se passava ali mesmo naquele PUB... sorri e desviei o olhar para o copo, fazendo-lhe duas carícias num movimento vertical, aproximei-o da boca e bebi uma boa quantidade de whiskey, pousei o copo e sem me aperceber levantei-me
Quando dou por mim estamos os dois lado a lado, no ínicio do corredor a caminhar com a mesma cadência... sem falar ou olhar um para o outro, como dois putos desatámos a andar mais depressa... e mais depressa... até que ele estacou de repente, deu uma gargalhada e retornou para junto do seu grupo
Enquanto lavava as mãos e tentava repetir as imagens do que se passou no corredor... entrou ele e a tal mulher, e dirigiram-se para o mictório, saí abruptamente...
Sentado novamente, olhei para o copo vazio e como quem leva uma forte pancada na cabeça comecei a questionar "Será que ele se esqueceu e ía à casa de banho sózinho?"
Os meus amigos perguntaram-me se estava bem... se tinha fumado alguma coisa... mas não conseguia responder, tais eram as dores nos abdominais de tanto rir... "Será que ele se esqueceu e ía à casa de banho sózinho"...

3 comentários:

  1. Anónimo5/16/2009

    Os relógios foram postos por ti? Podes por um com a hora da China? hihihihhi!

    M.
    P.S. Continuo impressionada com o que leio...

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  2. a lua andou a brincar às econdidas em frente da minha varanda. tentava esconder-se por entre as nuvens, mas não sabia, como as crianças, todos os truques do jogo. fazia figura de lua escondida com halo de fora...depois choveu.

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  3. pelo Carlos...tem todas as hora que ele quer saber...

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