30/12/2009

a viagem

Ângela entrou no terminal 2, com o mesmo passo decidido e apressado, com que entrara dois meses antes naquele arranha-céus do centro da cidade. As coincidências eram em demasia - a mesma linha de metro que a deixara à porta da clínica, trazia-a agora para o aeroporto internacional; roupa desajustada ao inverno rigoroso; uma mochila vazia de pertences e o mesmo estado de letargia de quem pouco acredita na decisão das suas atitudes. Dirigiu-se ao balcão de uma low-coast e indagou de voos para o outro lado do trópico. Verificou que as suas poucas poupanças ainda não eram suficientes e esperou pelas promoções de última hora. Lembrou-se que ainda não tomara o pequeno almoço, comprou um cappucino no Starbucks e sentou-se com o aroma quente a bater-lhe na face, enquanto as suas mãos envolviam o copo gigante. A sua mente aqueceu, enquanto a neve no meio da pista enregelava cada vez mais o seu corpo. Fumar naquelas caixas de vidro, diminutas e apinhadas de gente, causavam-lhe ansiedade, por isso o seu Marlboro, outrora light, era apagado quase sem ser consumido... outros iriam seguir-lhe do mesmo modo. "A dor é inevitável, sofrer é uma opção" lembrou-se das palavras do seu avô e não conseguiu evitar que uma lágrima escorresse pela sua face... tal como combinado entre as duas, a funcionária deu-lhe sinal e ela finalmente obteve um destino. Dentro de hora e meia estaria metida num avião que a transportaria para um país desconhecido, com a firme intenção que o seu passado ficasse congelado naquele manto branco de neve...

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